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Bíblia Hebraica

Livro esgotado. Substituído pelo TANAH COMPLETO.
Autor: Jairo Fridlin e David Gorodovits
Editora: Sêfer
SKU: 9003
Páginas: 880
Avaliação geral:

Apresenta a tradução para o português da Bíblia diretamente do hebraico e à luz do Talmud e das fontes judaicas, mostrando a forma como os judeus leem e entendem o texto bíblico há milhares de anos. Isso explicará por que os judeus são como são, em que se baseia a fé judaica ancestral e, talvez, o segredo da sua existência ao longo da história. DISPONÍVEL APENAS NA VERSÃO EPUB.

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Descrição

Sucesso de crítica e vendas: mais de 30.000 exemplares vendidos!

Apresenta a tradução para o português da Bíblia diretamente do hebraico e à luz do Talmud e das fontes judaicas.

Apresentada apenas em português, mostra a forma como os judeus leem e entendem o texto bíblico há milhares de anos. De certa forma, isso explicará por que os judeus são como são, em que se baseia a fé judaica ancestral e, talvez, o segredo da sua existência ao longo da história.

Para os leitores não-judeus, a leitura de certas passagens causará alguma surpresa, e isso os fará ver a Bíblia com outros olhos, a partir do contexto judaico original da mesma e sem as "interferências" operadas em certas passagens polêmicas no decorrer dos tempos.

São 880 páginas em papel Scritta branco 44 gr. (o que dá uma espessura de apenas 3 cm) e capa dura de luxo.

* * *

Os livros que compõem a BÍBLIA HEBRAICA são:

Torá
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio

Profetas
Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Os Doze (Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Mihá [Miquéias], Nahum, Habacuc, Tsefaniá [Sofonias], Hagai [Ageu], Zacarias e Malaquias)

Escritos
Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Ezra- Neemias e Crônicas

* * *

Inédito, um Tanach em português!
por Bernardo Lerer

Jairo Fridlin, da Editora Sêfer, já pode respirar aliviado: dois anos depois de iniciada, está pronta a primeira edição completa do Tanach, isto é, a Bíblia judaica, em português. Ele realiza "um sonho antigo, pois os judeus falam português há pelo menos mil anos e a única versão do Tanach numa língua próxima da nossa é de 1553, editada em Ferrara, na Itália, mas em ladino. Os judeus não tinham autorização para traduzi-la para o português", conta Jairo, que editou dezenas de livros de oração, de reflexão, para crianças, leis sobre cashrut, etc.

A versão em português do Tanach terá 880 páginas, capa dura de luxo e uma lombada de apenas dois centímetros e meio, porque empregou-se o chamado papel bíblia, cuja folha pesa apenas 44 gramas. O livro é uma obra coletiva. Ele o traduziu junto com David Gorodovits, do Rio, e teve a revisão técnico-religiosa dos rabinos Marcelo Borer, Daniel Touitou e Saul Paves, e dos professores Norma e Ruben Rosenberg, Daniel Presman e Marcel Berditchevsky.

O livro vai se destinar aos alunos das escolas judaicas e ao público em geral. A seguir, entrevista com Jairo Fridlin:

Quais as novidades desta edição?
A maior, sem dúvida, é seu "jeito" judaico, baseado e influenciado pela visão do sábios do Talmud e nas demais fontes judaicas dos últimos 2.000 anos. O uso dos nomes hebraicos - tanto dos personagens como dos lugares - torna o conjunto da obra mais interessante, porque usamos o "ben" para indicar a filiação (ex.: Avner, filho de Ner, virou Avner ben Ner). Quanto aos lugares, é possível entender onde que se passa pois esses pontos são visíveis no mapa hoje. Na grafia, usamos o H sublinhado para representar as letras Chet e Chaf, ao invés do tradicional CH. Acredito que o resultado seja bom. O público vai decidir. Embora seja apresentada convencionalmente, em capítulos e versículos - cuja origem não é judaica, mas teve que ser "oficializada" devidos aos recorrentes debates inter-religiosos da Idade Média -, tentamos demonstrar como é a divisão judaica para evita desmembramentos e descontextualizações de alguns textos. Apresentamos também aquelas "aberturas" que aparecem no textos hebraicos. Ficamos devendo a inclusão de todo o texto em hebraico. Isso fica para a próxima.
Agora, em relação às outras traduções em português, o que mais a distingue é que nenhuma delas foi feita diretamente do hebraico, idioma original da Bíblia. O que ninguém discute e é um fato.

Quais as grandes dificuldades encontradas para a tradução?
Ao não inserir notas de rodapé, tivemos de decidir entre as diferentes opções de tradução de algumas palavras, bem como optar por um dos tantos e ricos caminhos exegéticos. Às vezes, seguimos a opinião de Rashi, outras a de Nachmânides, outras de um terceiro, e assim sucessivamente. Mas sempre apoiados em alguma opinião rabínica, e de preferência, a que melhor se articulava com o texto em si, a que damos o nome de "peshuto shel hamicrá".

Que cuidados tiveram com a tradução?
Em primeiro lugar, a clareza - para os jovens estudantes entenderem o que o texto diz. Nesse ponto, sacrificamos várias palavras - por si só corretas e precisas - por outras mais conhecidas e compreensíveis. Educadores constituíam o grupo de trabalho para dar uma forte conotação educativa à obra.
Segundo, tentamos inserir no texto algo aparentemente abstrato mas cuja ausência é possível sentir em outras traduções: o olhar judaico, o gosto judaico, o som judaico; o estilo judaico, enfim.
Além disso, tentamos extrair do texto certas influências externas que se incorporaram a ele, às vezes intencionalmente, o que o distanciava do original. Um exemplo é traduzir Shabat por "dia de descanso", que amanhã poderia vir a ser o domingo... ou traduzir a palavra Toráh apenas como Lei, quando sabemos que ela é muito, muito mais que isso.
Raramente, e entre parênteses, inserimos palavras que complementam o texto, ou que o comentam, ou que identificam determinados personagens a que o texto faz referência. Isso poderá evitar que certas passagens sejam relacionadas a quem não de direito. Nos Profetas maiores e particularmente em alguns dos Escritos, não nos prendemos mais do que o necessário à letra do texto mas tentamos captar e transmitir sua mensagem de forma bem clara, como anteriormente na edição do livro dos Salmos. Nossa intenção é que o leitor se emocione com o texto, vibre e se envolva com a leitura. Neste caso, a tradução literal e "burocrática" seria um erro.

De que fontes se valeram para a tradução?
Primeiro, baseamo-nos na versão em hebraico do Tanach conhecida como "Kéter Aram Tsová" (ou Alepo), reconhecida como a mais fiel e autêntica, e que remonta à época de Maimônides.
Consultamos traduções para o inglês, espanhol, francês - e mesmo português - como fontes de comparação e apoio, mas no apoiamos principalmente nos comentaristas clássicos do Tanach , conforme relacionado no livro, mencionando até a época em que viveram.

Por que uma tradução para o português?
Porque havia essa carência e, em algum momento, alguém teria de fazê-la. O Tanach é a base de todo o "edifício" do judaísmo. Todos os demais livros se relacionam a ele. E é triste e doloroso constatar que poucos de nós tivemos a oportunidade de conhecê-lo. Eu mesmo, no início de meus estudos, sofri para entender muitas passagens. Talvez agora, disponível uma tradução judaica para o português, mais pessoas se interessem em conhecer e estudá-lo com a profundidade que ele merece!

Qual o significado desta obra?
Para mim, é a maior de todas e tantas contribuições judaicas para a Humanidade. Ela é a ponte que poderá tornar o mundo uma grande família de povos e, à luz de seus ensinamentos, aprenderá, um dia, a se respeitar e a viver de forma harmônica e em paz, como nos ensina aquela famosa profecia do lobo e do cordeiro, de Isaías. Ela é o livro mais importante da cultura judaica e o que mais profundamente influenciou a civilização ocidental. Graças a ela, nos deram, aos judeus, o título honorífico e o devido respeito por sermos "o povo do livro". Pois devemos assumir esta condição, também em português.

O texto foi traduzido na ordem direta, ou tal como se lê no original?
Onde possível, tentamos colocar na ordem direta. Ao invés de "E falou o Eterno a Moisés", adotamos o "E o Eterno falou a Moisés". Mas em trechos dos Profetas e dos Escritos, o estilo do texto exigia que mantivéssemos a forma indireta.

Quem já se mostrou interessado nela?
Primeiramente, as escolas judaicas; creio que logo as famílias judaicas também se interessarão por uma obra tão importante e fundamental para a identidade judaica. O público não-judaico também está ansioso por conhecer a forma como nós, judeus, lemos e entendemos a Bíblia.

Existe a possibilidade de ela vir a ser distribuída nos países de fala portuguesa?
Existe, e vamos tentar fazer isso o mais breve possível.

A edição inclui a exegese do texto bíblico?
Apenas parcialmente, pois não existe tradução sem exegese. Em outras palavras, a própria tradução é, em certa medida, uma exegese.

Caderno 2- CULTURA-  de O Estado de S.Paulo- D5 22-1 2006
Bíblia Hebraica, a nova versão que não é uma redundância

Grupo de trabalho que teve à frente o editor Jairo Fridlin traz a especialistas mais um elemento complicador e enriquecedor
Moacir Amâncio

Existem várias e boas traduções da Bíblia em português. Uma grande tradução é aquela de João Ferreira de Almeida (a fiel), pela qualidade literária. A Bíblia de Jerusalém é uma das versões autorizadas para uso em pesquisa, etc. Católicos ou protestantes, cada um conta com a sua Bíblia, com o objetivo de atingir a verdade do texto original. No Brasil, onde existe vida judaica organizada há cerca de 150 anos, tinham aparecido as versões do Pentateuco (Torá) feita por Matsliah Melamed (Sêfer) e A Torá Viva (Maayanot). Faltava a parte complementar do conjunto, que forma a Bíblia Hebraica: Profetas e Escritos.

A questão que se colocava: o que fazer quando se tratava de estudar essa literatura específica numa escola judaica, antes do conhecimento suficiente do hebraico, ou quando um judeu pretendia ler a Bíblia Hebraica em português? Era preciso recorrer às traduções em voga e adaptá-las à linha de pensamento exigida. Por isso o editor e tradutor Jairo Fridlin reuniu um grupo de tradutores, educadores e rabinos para resolver o problema - sem entrar na questão de que, diante do texto bíblico original, o leitor se apóia em comentários e, no caso de estudiosos, em pesquisas lingüísticas. O resultado é esta edição da Bíblia Hebraica em português. Pode ser vista como serviço prestado a fiéis e uma contribuição para o diálogo entre as religiões, que se iluminam reciprocamente - os especialistas têm agora mais um elemento complicador e enriquecedor.

Fridlin e David Gorodovits se encarregaram da tradução, enquanto Uri Lam (responsável por tornar acessível em português O Guia dos Perplexos, de Maimônides) secretariou o grupo, e os demais se encarregaram de revisão técnica e outros tipos de assessoria especializada. Para chegar ao texto final, a equipe utilizou-se dos grandes exegetas antigos, que incluem desde rabinos talmúdicos e o tradutor aramaico Ônkelos, até os medievais Shelomô Itshak (Rashi), Ibn Ezra, Nahmânides, Maimônides, dom Isaac Abravanel, etc. Possíveis diferenças com outras versões nem sempre são tão claras e podem obedecer a critérios eruditos e sutis, com implicações interpretativas em diversas áreas. Um exemplo está em Êxodo, 21:8, que talvez dê idéia da complexidade em pauta, pois, como sabemos, a Bíblia é muito difícil em qualquer idioma.

Trata-se do caso em que um pai vende a filha como serva e as conseqüências do ato. Diz o versículo: 'Se for má aos olhos de seu senhor para consagrá-la para si, ou remi-la, não poderá vendê-la (nem o pai) a outro homem após tê-lo servido e não havê-la desposado.' O nó aqui está em 'outro homem'. O original hebraico refere-se a 'povo estranho', o que é observado por Ferreira de Almeida e pela Bíblia de Jerusalém. No entanto, Ônkelos traduz para 'outro homem', assim como rabinos antigos entendem o versículo. Nada aqui é pacífico e não é este o espaço para análises do ponto, mas polêmicas à parte, os tradutores da Bíblia Hebraica procuraram as próprias tradições, que se explicam nela mesmas.

Os caminhos de contrastes e confrontos sugeridos a partir daí são suficientes para estimular o estudo. Não há motivo para se considerar esta nova tradução uma redundância, diante da quantidade de traduções existentes. Até porque, como enfatizam os editores, não se conhece até hoje um esforço semelhante em português, mesmo no passado da Península Ibérica anterior à inquisição e à expulsão dos seguidores de Moisés. Além disso, qualquer texto só pode ser lido à luz do momento presente, e as análises mais conclusões dependem do enfoque do leitor. Por esses motivos, a publicação não pode passar sem registro - ela tem evidente sentido histórico.

Moacir Amâncio é autor de Contar a Romã (Globo)


 

 

São Paulo, sábado, 02 de setembro de 2006

 

 


 

 

Crítica/religião

Tradução mostra as interpretações do judaísmo para escrituras sagradas RAFAEL RODRIGUES DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Hoje contamos com inúmeras traduções da Bíblia (tanto o Primeiro Testamento ou Bíblia Hebraica quanto o Segundo Testamento ou Testamento Cristão) com variados estilos, tendências e, evidentemente, com suas opções interpretativas. Se tomarmos as traduções que circulam nos ambientes cristãos, logo perceberemos sua perspectiva de análise e leitura do texto antigo.

Agora, o leitor desavisado poderia questionar, ao se deparar com mais uma tradução para o português das Sagradas Escrituras Hebraicas: já não temos tantas traduções? Qual a intenção da editora Sêfer neste árduo trabalho de produzir uma tradução do texto hebraico?

Ela traz a público uma versão do texto bíblico conforme a tradição judaica. Vale salientar que se trata de um trabalho pioneiro nos círculos judaicos, com a intenção de se manter o mais fiel possível ao texto original. Também busca se manter distante de certas tendências e interpretações teológicas.

Nesse sentido, não há notas de rodapé (explicativas e interpretativas) como noutras traduções. Esta opção propicia um não direcionamento da leitura que as pessoas farão do texto.

Mas devemos ter clareza de que, por mais que se diga que propomos uma tradução isenta e neutra de conveniências e interpretações teológicas, ainda assim, ao apresentar uma leitura conforme as tradições religiosas e culturais, estamos delimitando um caminho e uma proposta de leitura do texto.

Seria interessante se a tradução trouxesse no final um pequeno glossário contendo alguns conceitos-chave que aparecem no texto e como eles são interpretados e relidos pela tradição judaica. Também seria interessante para ajudar os leitores que têm pouco conhecimento das tradições e da história do judaísmo contar na apresentação alguns aspectos da história, dos costumes e da cultura de Israel.

No entanto, é de suma importância esta tradução da Bíblia Hebraica à luz do Talmud e das tradições judaicas. A editora Sêfer e os editores da Bíblia Hebraica estão de parabéns por mais este serviço aos estudiosos do texto sagrado, aos grupos religiosos e ao diálogo entre as tradições judaicas e cristãs.

RAFAEL RODRIGUES DA SILVA é professor de exegese bíblica do Instituto Teológico São Paulo e da Unisal e professor de teologia do departamento de teologia e ciências da religião da PUC-SP.

BÍBLIA HEBRAICA
Editora:
Sêfer
Tradução: David Gorodovits e Jairo Fridlin
(880 págs.)

 

 


Revista 18

Centro da Cultura Judaica - Casa de Cultura de Israel

Ano IV - número 17 - Setembro / Outubro / Novembro 2006 - ISSN 1809-9793

Uma nova Bíblia em português

Nova tradução da Bíblia hebraica, diretamente do idioma original, chega ao leitor brasileiro
com a intenção de reparar distorções e de incluir a tradição sapiencial judaica. O trabalho,
porém, é apresentado de forma monolítica, sem notas nem comentários, ou seja, é uma
entre muitas interpretações possíveis das escrituras.

Por Suzana Chwarts
(Arqueóloga bíblica e professora de Estudos Bíblicos na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP) 

 

Apublicação da Bíblia hebraica por David Gorodovits e Jairo Fridlin - "baseada no hebraico e à luz do Talmude e das fontes judaicas" - traz ao leitor brasileiro o texto bíblico a partir de uma perspectiva judaica, segundo escrevem, em seu prefácio, os editores deste empreendimento. Ou seja, trata-se de um livro que procura harmonizar literaturas distintas, que perfazem uma trajetória de dois milênios: o texto hebraico massorético, o Talmude e os comentários dos sábios de Israel. David Gorodovits é referência de militância e erudição judaicas na comunidade do Rio de Janeiro, onde atua há 50 anos. Jairo Fridlin, que estudou na yeshivá de Petrópolis e na yeshivá Netiv Meir, em Jerusalém, é o responsável pela tradução para o português do Sidur e do Machzor (livros de orações), editados pela Sefer.

Os editores e tradutores responsáveis por esta tradução para o português da Bíblia hebraica investem na compreensão dos seus conteúdos, e o fazem a partir de dois pressupostos teológicos. O primeiro deles é o de que a Bíblia é fiel à verdade de forma absoluta, e o segundo, de que ela revela o caminho que conduz à "harmonia, à paz universal e ao amor sem cobiça". Para apreendê-los, no entanto, explicam que urge incorporar ao texto bíblico os ensinamentos do Talmude e dos exegetas. Seu objetivo, assim, parece ser a ampliação e o aprofundamento da consciência contextual, dotando o texto bíblico de uma dimensão suplementar, ancorada na tradição sapiencial de Israel, isto é, de uma sabedoria produzida em tempos e espaços diversos, e que jamais foi encerrada no dogma, e por isto mesmo destacando-se, entre todas as teologias, por sua polifonia e por sua liberdade de inquirir o texto bíblico em suas várias nuances.

Tal diversidade reflete-se na relação dos "principais exegetas consultados", apresentada pelos editores, e da qual cito apenas alguns nomes como o Rashi, exegeta que priorizou o pshat (sentido contextual); Guersônides, filósofo, matemático e astrônomo; Nahmânides, cabalista e místico; Maimônides, racionalista; Abravanel, liberal; Gaon de Vilna, dogmático. O acesso a esta sabedoria não está em notas de rodapé ou excursos no final da obra, mas, segundo afirmam os editores, no próprio corpo do texto bíblico, através de um sistema criterioso de substituição ou inserção de terminologia. Os critérios, no entanto, permanecem ocultos ao leitor que, sem dúvida alguma, se beneficiaria imensamente da sua exposição, ainda que sucinta.

 

Da observação do texto fica claro que os tradutores buscam uma relação interativa e orgânica entre as diversas fontes, uma fusão harmoniosa - um verdadeiro trabalho midráshico, isto é, interpretativo, e direcionado às gerações atuais - mas que, inevitavelmente, resulta num texto desigual, que intercala trechos fiéis à tradição massorética com outros, expandidos ou modificados pela exegese, não obstante o cuidado dos tradutores em demarcar suas interferências com parênteses e travessões. Talvez seja este exatamente o anseio dos editores que, visando intensificar o potencial redentor do texto, desdobramno até atingir os limites do ideológico e do teológico, no intuito de transformar a leitura da Bíblia hebraica numa experiência judaica singular, que "instile em seus leitores o desejo de absorver seus ensinamentos e passar a vivenciá-los na prática".

O texto que lhes serviu de base é o do códice de Alepo, também conhecido como keter aram tsova, do século 10 a.e.c., e um dos principais códices massoréticos da tradição Ben Asher. Seu texto consonantal foi escrito por Shlomo ben Buyaa e, segundo a tradição, Aaron ben Asher se encarregou da vocalização, acentuação e notações massoréticas. Em dezembro de 1947, durante o pogrom perpetrado contra a comunidade judaica de Alepo, na Síria, a sinagoga, onde estavam guardados os manuscritos, foi incendiada, e apenas 295 páginas restaram das 487 páginas originais. O códice foi trasladado a Israel, onde está até hoje, tornando-se objeto de estudo de renomados biblistas, como Moshe Goshen-Gottstein, que considerou consistente a afirmação tradicional de que este seria o modelo de Bíblia que Maimônides teria conhecido no Egito e empregado na elaboração de sua obra mais relevante para o judaísmo - o mishne torah. O códice de Alepo foi, recentemente, a fonte de várias edições modernas da Bíblia hebraica, inclusive de duas edições de Mordechai Breuer e da consagrada Keter Yerushalaym, impressa em Jerusalém, e baseada na caligrafia e na configuração do códice, que, aliás, Fridlin e Gorodovits adotam em sua Bíblia hebraica, preservando as aberturas e espaços em branco do texto, a grafia de certas palavras e a divisão de alguns versículos.

Os tradutores deixam claro, no entanto, que sua versão da Bíblia hebraica apenas "se baseia" no hebraico e que o códice de Alepo apenas "norteia" seu exercício de tradução. Por outro lado, a apresentação do livro cria uma grande expectativa para o leitor: a de que será conduzido, por intermédio da tradição exegética judaica, a uma compreensão mais profunda da mensagem bíblica, como o exemplo citado pelos tradutores:

"No primeiro livro do tanakh (o Pentateuco), quando Deus coloca o homem no Jardim do Éden, um quadro vívido do que deveria ser a ecologia universal nos é apresentado: o homem e todos os componentes da natureza convivendo em equilíbrio e harmonia. No entanto, o ser humano não consegue manter o comportamento que lhe é determinado, e em conseqüência disto é obrigado a deixar o Paraíso. 'Com o suor de teu rosto comerás pão'; a sentença proferida pouco antes de sua expulsão é muitas vezes interpretada como um terrível castigo, mas o judaísmo a entende como uma nova oportunidade oferecida ao homem pelo Criador, em Sua infinita bondade, para que ele, com seu trabalho, esforço e mérito, reconstrua esse mundo ideal." Mas ao lermos os últimos versículos do capítulo 3 do Livro do Gênesis, que narram a expulsão de Adão e sua mulher do Paraíso, encontramos somente as palavras aterradoras de Deus, e esta visão judaica da cena da expulsão - redentora e particularmente maravilhosa - permanece inantigível, pois é impossível incluíla no corpo do texto.

Já no Cântico dos Cânticos, Fridlin e Gorodovits alinham a leitura e a compreensão da mais famosa poesia de amor do mundo à exegese, que a considera uma alegoria do amor entre Deus e Israel, identificando o locutor de cada fala: Deus (nas falas do amante); Israel (nas falas da amada); as nações (nas falas das filhas de Jerusalém) e o Tribunal Celeste (na fala dos irmãos). Tais interferências de fato modificam a leitura do texto, e convidam à reflexão.

Em diversas instâncias o texto nos remete diretamente à versão exegética, transformando alusão em definição: o "servo sofredor", ao qual se refere o profeta Isaías, é prontamente identificado como o povo de Israel. Outras vezes, a tradução, fiel ao hebraico, corrige interpretações de outras teologias que corromperam seu sentido original e, conseqüentemente, a identidade do texto como um todo. Assim, lemos que "a moça grávida dará à luz um filho e o chamará Imanuel" em Isaías 7:14, e não a "virgem", conforme uma tradução errônea, porém corrente, do termo hebraico 'almah'.

A equipe de tradutores e revisores se esmerou na clareza do texto em português, que flui livre dos arcaísmos e termos rebuscados característicos de tantas outras traduções. É sempre relevante ter em mente que a oralidade é um componente significativo da Bíblia hebraica, que é lida em voz alta várias vezes por semana na liturgia judaica, e esta qualidade foi respeitada na tradução, acentuada, inclusive, pela preservação dos nomes próprios e de lugares no hebraico original. Surpreende apenas, na bibliografia, a ausência de dicionários bíblicos especializados, m instrumento indispensável no exercício da tradução. Os estudos etimológicos do hebraico bíblico revelam camadas de significado que iluminam o texto e aguçam sua compreensão.

Um exemplo: em Gênese 1:2 lemos "a terra era sem forma e vazia, e havia escuridão sobre a face do abismo, e o espírito de Deus pairava sobre a face das águas". Os tradutores optaram pelo verbo "pairar" para traduzir o hebraico merahefet, assim como a maior parte das traduções convencionais. O radical rhf, porém, do qual merahefet é derivado, traz a idéia básica de movimento, deslocamento e vibração, um sentido que o hebraico compartilha com o ugarítico (língua semita ocidental, da mesma família do hebraico). Na própria Bíblia hebraica, este verbo figura outras duas vezes, em Deuteronômio 32:11, quando descreve uma águia que se agita em torno de seu filhote, e em Jeremias 23:9, quando o profeta faz referência ao tremor dos ossos. O verbo em Gênese 1:2 associado a ruah, vento, sopro, espírito divino, reforça ainda mais a idéia de que a superfície das águas estaria agitada: a presença divina gerando movimento e dinamismo e alterando a natureza informe e estática do caos primordial.

São oportunidades como esta - de esclarecer a mensagem bíblica através do estudo de sua língua original, assim como a de aprofundar sua percepção através dos ensinamentos dos sábios da tradição judaica - que movem estudiosos como Fridlin, Gorodovits e o grupo de revisores da obra, composto por professores do ensino judaico e rabinos, e que constituem a tônica e a razão de ser de uma Bíblia como a que temos hoje em mãos.

Trata-se de uma obra que vem preencher uma lacuna na bibliografia judaica brasileira, e incorporar-se à herança de Israel - uma herança que vem sendo edificada, ao longo dos séculos, por aqueles que firmam um pacto de leitura com a Bíblia hebraica e com sua palavra, sempre aberta à expansão e à descoberta.  

Índice e trechos


ÍNDICE GERAL

Torá
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio

Profetas  
Josué
Juízes
Samuel
Reis
Isaías
Jeremias
Ezequiel
Os Doze
Oseias
Joel
Amós
Obadias
Jonas
Mihá [Miqueias]
Nahum
Habacuc
Tsefaniá [Sofonias]
Hagai [Ageu]
Zacarias
Malaquias

Escritos
Salmos
Provérbios

Cântico dos Cânticos
Rute
Lamentações
Eclesiastes
Ester
Daniel
Ezrá - Neemias
Crônicas

Considerações Gerais 

De acordo com o que se pôde apurar até agora, e salvo engano, esta é a primeira vez na história que um grupo de judeus se debruça sobre todo o cânon do TANAH – a Bíblia Hebraica – com o intuito de traduzi-lo diretamente do original hebraico para o português. Fatores externos ao judaísmo certamente pesaram e inviabilizaram esta empreitada até agora, impedindo que grande parcela do público de fala portuguesa tivesse acesso a uma versão do texto bíblico mais apurada e isenta de influências externas que, por diferentes razões, alteraram-no ou o adaptaram às suas próprias conveniências e necessidades teológicas.

Esta tarefa exigiu a adoção de alguns critérios e padrões, os quais expomos a seguir:

TEXTO PADRÃO – A versão hebraica que norteia este trabalho é a do Kéter de Alepo (Aram-Tsobá), relacionada historicamente aos grandes mestres massoréticos e a Maimônides, considerada mundialmente a mais precisa e autêntica. Estão baseadas nela as aberturas e espaços em branco do texto (Parashá Petuha e Setumá), a grafia de certas palavras e a divisão de certos versículos. Na Torá, a divisão em 54 porções semanais também foi incluída.

DIVISÃO CAPITULAR – Apesar de não ser judaica e datar apenas das primeiras impressões do TANAH em fins do século 15 da era comum, a divisão universal da Bíblia em capítulos e versículos foi incluída nesta obra. Embora bastante aleatória, imprecisa e causadora de inúmeras distorções, ela está presente neste trabalho por ter se consagrado também nos círculos judaicos no decorrer dos últimos séculos e constar de todas as modernas edições do TANAH. Isso se deve, provavelmente, à sua funcionalidade, e constitui uma “ponte” entre diferentes culturas ao Livro dos Livros. [Um entre tantos exemplos interessantes dessa aleatoriedade é o início do capítulo 53 de Isaías, exatamente três versículos após o início de uma profecia (52:13), dando a entender ao leitor que ali tem início uma outra profecia totalmente desvinculada da anterior.]

ESTILOS DE TRADUÇÃO – Nossos Sábios dizem que a Torá tem “70 Faces”. Por isso, a tradução de um versículo em hebraico para qualquer outro idioma expressa, muitas vezes, apenas um desses aspectos, cabendo aos tradutores a ingrata e subjetiva tarefa de optar por um dos caminhos a ser seguido, deixando para trás outras excelentes opções interpretativas – certamente tão válidas quanto a apresentada nesta obra – que caberiam muito bem em notas de rodapé, o que não foi o caso, nem era a proposta deste trabalho. Mas usou-se a inserção criteriosa de certas palavras (normalmente entre parênteses) quando extremamente necessárias à compreensão do texto, ou adotou-se determinada tradução não literal a fim de possibilitar sua leitura à luz dos ensinamentos e orientações técnicas dos Sábios do Talmud e dos consagrados exegetas bíblicos judeus dos últimos dois mil anos.

VISÃO EDUCACIONAL – Por outro lado, a equipe de tradutores e revisores encarregada deste trabalho foi composta basicamente por rabinos e educadores experientes no ensino dessa matéria em salas de aula, o que a levou muitas vezes a priorizar a clareza, a simplicidade e a modernização de certos termos e construções gramaticais e a abrir mão da literalidade, visando, sempre que necessário, facilitar a compreensão do texto, seu sentido e sua mensagem no vernáculo para o público atual.
Ainda assim, o estilo de tradução da Torá é diferente do adotado nos Profetas e nas Escrituras. Cada bloco teve um tratamento adequado ao seu estilo e teor, mas sem esquecer por um segundo sequer sua origem e inspiração Divinas.

NOMES PRÓPRIOS – A fim de acrescentar um sabor hebraico ao texto, optou-se pela manutenção dos nomes próprios no idioma original, exceto os já consagrados. Entre colchetes aparecem esporadicamente seus equivalentes – ora em hebraico, ora em português – para facilitar sua identificação pelo leitor. Alguns nomes consagrados, por não manterem a sonoridade original, foram abandonados, como Ageu e Sofonias. 

INOVAÇÕES – Duas interessantes inovações foram feitas: a manutenção em hebraico do termo “ben” e “bat” (“filho/filha de” – como “Avner ben Ner” e “Mihal bat Saul”), de  forma similar a outros idiomas em que a relação de filiação (“von”, “ibn”) é parte integral do nome. Em alguns casos, o resultado deixa a desejar (“Josué bin Nun”), mas são exceções. Outra foi a opção pela utilização de números cardinais e ordinais no lugar de números escritos por extenso, quando expressando quantidades. A exceção parcial à regra foi “um–uma” e “dois–duas”.

GRAFIA – Na grafia de palavras hebraicas em letras latinas (transliteração) inovou-se também com a adoção da letra H ou h sublinhada para o som gutural de RR (como na palavra “carro” em português), em equivalência às letras hebraicas Het e Haf (e não o “ch”).
Por fim, rogamos ao Criador que não atribua a terceiros os eventuais erros e incorreções deste trabalho, pois estes são de nossa total responsabilidade, mesmo os inconscientes. Ficaremos muito gratos se os atentos leitores os apontarem, a fim de que possamos corrigi-los nas futuras edições e, assim, apurar mais e mais esta importante obra e, desta forma, “engrandecer e glorificar Sua Torá” (Isaías 42:21).
Os Editores

Bibliografia
Tora Neviim Ketuvim, Horev Publishing House, 2002, Jerusalém, Israel.
Tora Neviim Ketuvim, Koren Publishing House, 1996, Jerusalém, Israel.
Tora Neviim Ketuvim - Simanim, Feldheim Publishers, 2004, Jerusalém, Israel.
Torá - A Lei de Moisés, R. Meir Matzliah Melamed, Editora Sêfer, 2001, S. Paulo, Brasil.
The Chumash/Stone Edition, R. Nosson Scherman, Mesorah Publication, 1993, NY, USA.
Judaica Press Books of The Bible, Rabbi A. J. Rosenberg, Judaica Press, 1997, NY, USA.
Hamisha Humshê Torá Rav Peninim, Hotsaat Lewin-Epstein, 1967, Jerusalém, Israel. 
Humash Torat Hayim, Mossad HaRav Kook, 1993, Jerusalém, Israel.
Judaica Press Books of Prophets and Holy Writings, Rabbi A. J. Rosenberg, Judaica Press, 1978-1991, NY, USA.
Nah Micraot Guedolot, Hotsaat Am Olam, 1961, Jerusalém, Israel.
Salmos – com Tradução e Transliteração, Vitor Fridlin, David Gorodovits e Jairo Fridlin, Editora Sêfer, 1999, S. Paulo, Brasil.
Tanach/Stone Edition, R. Nosson Scherman, Mesorah Publication, 2000, NY, USA.
The Holy Scriptures Acording to Masoretic Text, R. Morris A. Gitstein, R. David Graubart,  Menorah Press, 1957, NY, USA.
A Bíblia Sagrada, versão da Imprensa Bíblica Brasileira, baseada na tradução de João Ferreira de Almeida, de acordo com os melhores textos em Hebraico e Grego, 1979, RJ, Brasil.
Josué, Juízes, Samuel e Reis, com comentário “Nachalat Avot”  do rabino Avraham Blau, tradução de Rafael Fisch, Editora Maayanot, 1984-2002, S. Paulo, Brasil.
La Biblia – Hebreo-Español, Moisés Katznelson, Sinai Publishing, 1996, Tel-Aviv, Israel.
The Book of Megillos, Rabbi Meir Zlotowitz, Mesorah Publications, 1987, NY, USA.
Hamilon Haivri Hamerucaz, A. Even-Shoshan, Kiriat-Sêfer, 1977, Jerusalém, Israel.
Dicionário Português-Hebraico e Hebraico-Português, Avraham e Shoshana Hatzamri, Editora Sêfer, 2000, São Paulo, Brasil.
Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI, Lexikon Informática/Nova Fronteira, versão 3.0, 1999.
DICMAXI Michaelis Português - Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, DTS Software Brasil, versão 1.0, 1998.

Principais exegetas consultados:
Rashi (França e Alemanha, 1040 - 1105)
Onkelos (Israel, c. 90)
Ralbag/Gersônides (Provença, 1288 - 1344)
Redak (Provença, 1160 - 1235)
Ibn-Ezra (Espanha, 1089 - c. 1164)
Gaon de Vilna (Lituânia, 1720 - 1797)
Ramban/Nahmânides (Espanha, 1194 - 1270)
Rambam/Maimônides (Egito, 1135 - 1204)
Maharit (Turquia, 1568 - 1639)
Ialcut Shimoni (Alemanha, séc. 13)
Dom Isaac Abravanel (Espanha, 1437 - 1508)
Daat Sofrim (Israel, 1911 -  2001)
Hirsch (Alemanha, 1808 - 1888)
Alshih (Israel, 1508 - 1593?)
Hida (Israel, séc. 18)
Malbim (Romênia e Rússia, 1809 - 1879)
Metsudot (Polônia, séc. 18)

Prefácio

Prefácio

Qual navio que, numa noite de neblina,  navega entre os rochedos ameaçadores de um mar revolto, buscando a luz de um farol que o possa orientar, o homem procura um caminho que o conduza a um mundo diferente do atual, em que haja paz, compreensão, amizade e um espírito de ajuda mútua entre todos os seres humanos e as sociedades das quais fazem parte.

Nesta época da história da humanidade em que parece não mais existirem valores morais e éticos que pautem os comportamentos dos seres e das nações, filosofias estranhas e duvidosas são encaradas como verdades incontestáveis, e guias carismáticos, que se arvoram salvadores, são seguidos sem questionamento por multidões na vã esperança de que conduzam à realização de ideais imaginários. 

Entretanto, a acompanhar nosso caminho através da história, sempre esteve – e está – ao nosso alcance o ensinamento que pode elevar o espírito humano e fazê-lo digno da imagem Daquele que o criou: o TANAH, a Bíblia Hebraica, que nos ensina a trilhar o caminho do aperfeiçoamento contínuo de nossos valores e comportamentos éticos e morais.

Seus personagens, profundamente humanos, nem por isso deixam de alcançar, ainda que por momentos, níveis tão elevados que os tornam capazes de comunicar-se com o Eterno. Abrahão, Isaac, Jacob e todos os profetas de Israel nos apontam o caminho para a realização do imenso potencial de fazer o bem com que o Criador dotou o ser humano.

Fiel à verdade de forma absoluta, a Bíblia não apenas nos revela as imperfeições de seus personagens como também nos abre as portas da compreensão para o significado da Teshuvá, o retorno ao caminho certo através do arrependimento e da percepção de como somos ingratos para com o Eterno, que nos dá todas as condições de abraçar posturas éticas mais elevadas e atingir Seus anseios mais caros.

No primeiro livro do Tanah, quando Deus coloca o homem no Jardim do Éden, um quadro vívido do que deveria ser a ecologia universal nos é apresentado: o homem e todos os componentes da natureza convivendo em equilíbrio e harmonia. No entanto, o ser humano não consegue manter o comportamento que lhe é determinado e, em consequência disto, é obrigado a deixar o Paraíso.

“Com o suor de teu rosto comerás pão”: a sentença proferida pouco antes de sua expulsão é muitas vezes interpretada como um terrível castigo, mas o judaísmo a entende como uma nova oportunidade oferecida ao homem pelo Criador, em Sua infinita bondade, para que ele, com seu trabalho, esforço e mérito, reconstrua esse mundo ideal.

Mas onde encontrar orientação para trihar este caminho? Como abrir as estradas que podem levar novamente a uma era de harmonia, paz universal e amor sem cobiça?

Para nós, judeus, as respostas se encontram no Tanah e no Talmud, no estudo de suas mensagens e na prática de seus ensinamentos. Mas para que isto se torne possível, é necessária a compreensão de seus textos. Em outras palavras, é essencial que estejam acessíveis na língua nativa de quem está disposto a estudá-los.

A isto se propõe esta edição do Tanah, que busca simultaneamente ser fiel ao original hebraico e à tradição rabínica, e a manter a clareza da linguagem corrente em português.

Permita o Eterno que esta obra instile em seus leitores o desejo de absorver seus ensinamentos e passar a vivenciá-los na prática, fazendo assim com que seus procedimentos sejam parcelas positivas da grande somatória em que se constitui a totalidade das ações humanas, contribuindo para que se torne mais próxima a realização do sonho de um mundo onde o sentimento de cada ser humano para com seu próximo seja expresso pelo significado da palavra que sempre foi nossa saudação: Shalom!

David Gorodovits
Jairo Fridlin
Nissan de 5766 – Abril de 2006

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