Aprovação e Introdução de nosso Mestre,
o Sábio Kabalista Rabino Mordechai Schainberguer
Jerusalém, 17 de Sivan de 5757.
"À imagem de Elokim fez o homem."
O significado deste versículo concentra a totalidade da essência do homem, com sua definição, função, objetivo e a árdua responsabilidade que recai sobre ele. Assim como está escrito no livro Tômer Devorá do grande Kabalista Rabi Moshé Cordovero em seu prólogo: é conveniente para o homem assemelhar-se ao Cadósh Barúch Hú; então ele existirá em sua forma superior. Sendo que caso se assemelhe a Sua aparência e não às suas ações, desvirtuaria de sua forma original, e sobre ele dirão: linda aparência, mas atos vagos. Já que o fundamento da Forma Superior do homem são suas atividades e ações, e que proveito terá em aparentar-se de Forma Superior exteriormente, enquanto suas ações são opostas às do Cadósh Barúch Hú?
O homem se distingue de todas as formas viventes, em todas os estratos e mundos, pelo fato de haver sido criado à imagem do Cadósh Barúch Hú e por possuir Neshamá Elokit/alma superior, assim como está escrito na tefilá da manhã/Shacharit (Eclesiastes 3:19): A superioridade do homem sobre o mundo animal é nula já que tudo é futilidade, exceto a Neshamá.
Vamos nos deter nos atos concretos fundamentais que individualizam o homem:
1. O homem atua de acordo com objetivos, assim como está escrito no livro Messilát Iesharim do Ramchal (o grande Sábio Kabalista Moshé Chaím Luzzatto): "O fundamento da generosidade e da origem do trabalho espiritual é que o homem distinga e verifique qual é a sua função neste mundo, devendo fixar sua observação e direção onde investe seus esforços todos os dias de sua vida."
Portanto, o homem é diferente dos outros seres vivos, já que estes são muito desenvolvidos ao chegar ao mundo, enquanto o homem precisa de mais tempo até se tornar independente. Isso ocorre porque o homem ativa seu potencial segundo o objetivo que se proponha, e é sabido que todo fruto que é doce em seu término é muito amargo em seu início.
2. O homem é um ser social, sua existência e desenvolvimento dependem de seu ambiente, e sua altura espiritual é avaliada de acordo com a sua contribuição à sociedade. O ticún/correção do mundo depende da relação do homem e seu ambiente, e de quanto está disposto a abdicar de seus interesses pessoais em prol do bem comunitário.
Veremos por que há tantos problemas no mundo, e tanta destruição e guerras etc. Desde o começo da vida social, tenta-se, através de todos os meios, encontrar fórmulas diversas e estranhas de acordos e soluções, para que todos os habitantes do mundo possam viver tranquilamente, um ao lado do outro, sem medo e em completa confiança. A principal causa e origem (dos problemas) é que no mundo é aceito como cume da justiça e da integridade o princípio geral de "o que é meu é meu e o que é teu é teu". Essa é a fonte de todos os sofrimentos, já que cada um define para si mesmo o que é "o meu" e o que é "o teu", e enquanto o homem continuar sendo egoísta, pensando que o mundo inteiro lhe pertence, e enquanto seu semelhante pensar igual, como conseguirá cada um chegar à "sua justiça" senão através da guerra e da imposição?
Isso e muito mais ocorre já que, como é sabido, cada país e movimento levanta como bandeira o símbolo da bondade e os mais elevados ideais que, a seu parecer, representam o bem supremo. Se dividíssemos o mundo em direita e esquerda, seria subentendido que a direita pensaria e estaria segura de que ela é o melhor e o completo, enquanto a esquerda é o maior expoente do mal. Portanto, deve-se lutar contra a esquerda até extirpá-la da terra. Enquanto a esquerda pensa exatamente o oposto, que ela representa o bem e a direita é o maior expoente do mal e, portanto, há que destrui-la. Desse modo resulta que todos os meios e energias humanas são mal- aplicadas em instrumentos de destruição.
Em resumo, sempre que a sociedade estiver edificada sobre interesses egoístas, não haverá possibilidade alguma de se chegar a uma convivência saudável e feliz. A única solução é o altruísmo e a entrega do homem à comunidade.
E além de tudo, o homem deve se colocar sobre todas as criações e assemelhar-se ao Supremo, à essência do Criador, já que de outro modo não chegará a seu objetivo, e nem sequer chegará ao nível de um anjo. A problemática aqui exposta tem solução já que "o Cadósh Barúch Hú não exige o impossível", por mais que não haja possibilidade alguma de concretizá-la, completamente, salvo através do trabalho na parte interior da Torá (a Kabalá). Apresentá-la-emos através de 3 pontos e aprofundaremos neles segundo sua devida ordem:
1. O homem atua de acordo com objetivos. E qual é o objetivo? Seguindo a leitura do livro Messilat lesharim, ele indica: O objetivo do homem é receber a plenitude que o Cadósh Barúch Hú criou para ele. Onde está essa plenitude? Está claro que tudo se encontra dentro da Torá, assim como está dito: "A Torá observarei e... criou o mundo". O homem transita através das letras da Torá pelo extraordinário mundo do Cadósh Barúch Hú, repleto de luz e de plenitude. Porém esse é um mundo secreto, que se revelará somente no Sod/nível de entendimento interior da Torá.
Isso faz com que o objetivo e todo o "projeto da Criação" em todos os níveis encontrem-se na Torá mais oculta, e se o homem não se aprofundar em seu estudo, é evidente que não conseguirá entender a correlação entre causas e efeitos para chegar ao objetivo final.
2. O homem é um ser social e deve transformar sua natureza, que é toda "desejo de receber" em seu extremo oposto, que é somente o desejo de dar, por mais que pareça utópico atuar contra nossa própria natureza. De onde poderá o homem receber a motivação e a energia para atuar contra sua natureza básica? É claro que é na força espiritual da Torá que se encontra sobre toda a realidade do homem, e é a que lhe dá a força para obtê-la. Nesse sentido é preferível o Sod/nível de entendimento interior da Torá (a Kabalá) do que os outros níveis de expressão da Torá, por ser ele a completa espiritualidade e a pura Suprema Luz que aparece em abundância na Torá, revelada ou de forma oculta. E por isso, sua força é firme no objetivo de transformar a natureza ?de receber? do homem para a natureza "de dar".
3. Assemelhar-se ao Cadósh Barúch Hú: e como já foi dito, o objetivo do homem deve ser dirigido a assemelhar-se ao Cadósh Barúch Hú, já que Sua Essência é impossível de ser conhecida. Isso é alcançado ao imitar Seus atos, como está escrito "através de Teus atos, Te conhecerei". Dessa conclusão, o homem aprende que há uma grande necessidade do estudo da Kabalá, já que através dele nos são revelados, nitidamente, os caminhos do Conhecimento Superior, a causa da Criação etc., até chegar a seu objetivo final.
Em síntese, parte do Sod do Pardes é imprescindível para se alcançar os objetivos do homem e para sua progressão no trabalho espiritual. E já foi dito em muitas oportunidades que a aproximação do homem ao Cadósh Barúch Hú, com entrega e amor, só é alcançada com perfeição através de seu aprofundamento na sabedoria da Kabalá. E todos os grandes Sábios do Zôhar e da Torá Interior - todos que a estudaram e aplicaram, e aqueles que estudam e compreendem a importância do estudo da Kabalá em nossos dias - expressaram de forma rigorosa e contundente que, pela falta de dedicação ao estudo da Torá em seu nível mais interior, a Kabalá, acometem-se várias e duras desgraças para o povo de Israel e para o mundo inteiro.
* * *
Nossa geração obteve o que não foi alcançado por muitas das gerações que nos precederam, isto é, que haja uma enorme sede pelo conhecimento espiritual, "a palavra de haShém", ou seja, a Kabalá. Este fenômeno ocorre mais especificamente entre os jovens, que sentem uma imperiosa necessidade pelo verdadeiro conhecimento espiritual e, a partir dela, chegam à Kabalá; e através dela, às suas raízes.
Junto ao acima dito, devemos agradecer ao Cadósh Barúch Hú por haver nos enviado fiéis emissários respeitosos de haShém, a quem lhes deu o dom da compreensão, encontrando assim uma linguagem clara e pura para ensinar aos jovens a estrutura desta sabedoria.
Um dos mais destacados guias nessa Sabedoria é o conhecido Rabino Chaim Zukerwar - que o Cadósh Barúch Hú o fortaleça e o proteja! - que foi dotado de compreensão na profundidade de sua Neshamá, com seu amplo coração e com sua palavra purificada, para abrir os caminhos dentro de um público amplo e inteligente que procura o conhecimento verdadeiro em seu contato com o Infinito-Criador, aproximando-os da luminosidade e da origem de suas almas.
E agora, tendo recebido esta compilação, fruto de seu esforço, julgo-o merecedor de que o elevem à mesa de estudo dos Reis da Torá. Apesar de suas palavras terem sido escritas em língua estrangeira, escutei de forma oral a maioria do que está aqui escrito, enquanto os colegas estudiosos, que compreendem esse idioma latino, estudaram-no e o revisaram, e enviaram suas bênçãos. Ele já é conhecido como grande especialista na matéria, através de suas aulas, e pelo benefício que outorga à nível coletivo; tudo isso de forma desinteressada, e pelo caminho da Torá e da Halachá.
Que o Cadósh Barúch Hú lhe dê força e que Sua Presença o acompanhe sempre, e que triunfe em tudo o que faça, engrandecendo infinitamente a Torá.
Com meu maior respeito ao Cadósh Barúch Hú, à Torá e a seus estudiosos, o abaixo assinado
Mordechai Schainberguer
O Rabino e Sábio Kabalista Mordechai Schainberguer é um dos maiores expoentes da Sabedoria da Kabalá na atualidade. Ensina em cursos e seminários na cidade velha de Jerusalém e em diversas cidades de Israel. Em Meron, estabeleceu e dirige a comunidade "Or HaGanuz", cuja particularidade e objetivo está em "Amarás a teu próximo como a ti mesmo", baseada em uma vida de Torá e mitsvót. É continuador direto da interpretação do livro Ticunê Zôhar - as correções espirituais do Zôhar iniciadas por seu Mestre, o Rabino e Sábio Kabalista Iehudá Tsvi Brandwain, discípulo direto do grande Sábio Kabalista do século XX, o Rabino Iehudá Leib Halevi Ashlag.