Prefácio do Tradutor
Rabi Moshe Cordovero, conhecido como “Ramac” (de abençoada memória!), encontra-se entre os grandes iluminados com a sabedoria da parte oculta da Torá.
Nascido na Espanha aproximadamente no ano de 1522, passou a maior parte de sua vida na sagrada cidade de Tsefat, em Israel. Estudou Torá, na sua forma revelada, com o renomado Rabi Iossef Caro, (de abençoada memória!), autor do Shulchan Aruch, o Código Judaico de Leis.
Aos vinte anos tornou-se aluno do Rabi Shelomo Halevi Alcabets, (de abençoada memória!), autor do hino Lechá Dodi, quando passou a estudar a parte oculta da Torá. Logo se destacou como um grande iluminado na Torá, e deu aulas sobre Talmud e sobre a parte oculta da Torá. Entre seus alunos destacaram-se os Rabinos Eliahu De Vidas, autor do livro Reshit Chochmá, Chaim Vital e Yits’chac Lúria, o sagrado “Ari” (de abençoadas memórias!), entre outros.
Através de um serviço religioso extremamente rigoroso de autopurificação, foi merecedor da revelação do profeta Elias (Eliáhu Hanavi).
Faleceu jovem, aos 48 anos de idade, em Tsefat, no dia 23 de Tamuz de 1570. O sagrado “Ari” (de abençoada memória!) declarou então que seu mestre era tão puro e santo que não havia nenhum pecado que pudesse justificar sua morte, senão o pecado do primeiro homem, Adão. De acordo com o testemunho do “Ari”, um pilar de fogo precedeu o túmulo do mestre por ocasião de seu enterro.
Rabi Moshe Cordovero (de abençoada memória!) deixou muitas obras famosas, entre elas os livros Pardes Rimonim, Or Iacar, comentário sobre o Zôhar, Or Neerav, Sêfer Guerushin, Shiur Comá, Elima Rabati e Tômer Devorá.
Os nomes Elima Rabati e Tômer Devorá derivam dos versos: “E vieram a Elim, e ali havia doze fontes de água e setenta palmeiras (Temarim, tamareiras)” (Êxodo 15:27), e “Ela sentava debaixo da palmeira de Devorá, entre Ramá e Bet-El” (Juízes 4:5).
A tamareira simboliza perfeição no serviço do homem a Deus, conforme mencionado no versículo: “O justo florescerá como a palmeira” (Salmos 92:13).
A Obra
Em Deuteronômio 28:9, a Torá diz: “...e andares por Seus caminhos”. Nossos Sábios explicaram: “Assim como o Santíssimo (abençoado seja!) é Piedoso, assim tu deves ser piedoso; assim como Ele é Generoso, assim tu deves ser generoso; assim como Ele é Justo, assim tu deves ser justo; assim como Ele é Devoto, assim tu deves ser devoto”.
Em Deuteronômio 13:5, a Torá diz também: “Após o Eterno, vosso Deus, andareis; a Ele temereis, Seus mandamentos guardareis e a Sua voz ouvireis; a Ele servireis e a Ele se achegareis”. O Talmud (Sotá 14a) explica assim este versículo: “Tu deves emular os atributos do Santíssimo (abençoado seja!): Assim como o Santíssimo, (abençoado seja!) veste os desnudos, assim tu deves fazer; assim como Ele visita os doentes, assim tu deves fazer; assim como Ele consola os desconsolados, assim tu deves fazer...”.
A “Tamareira de Devorá” (Tômer Devorá) é uma explicação desse mandamento de “imitar” Deus e adotar Suas qualidades através dos ensinamentos da parte oculta e mística da Torá. Neste livro, os Treze Atributos da misericórdia mencionados pelo profeta Miquéias (7:18-20) são analizados detalhadamente, de forma clara e prática, como orientação de como realizar esse preceito.
Conceitos
São muitos os termos encontrados na literatura que explicam o lado oculto da Torá. Procuraremos trazer ao leitor uma pequena noção de alguns destes termos.
Assim como é impossível olhar diretamente para luz do sol sem uma proteção ou lente que o permita, o mesmo se dá - mas em grau incomparavelmente maior - com a Luz Superior Abençoada, a Luz Infinita do Criador. Por isso, para que possamos percebê-La, foram criadas dez luzes denominadas “Esferas” (Sefirot).
As dez Sefirot são: Coroa (Kéter), Sabedoria (Chochmá), Entendimento (Biná), Bondade (Chéssed), Poder (Guevurá), Esplendor (Tiféret), Vitória (Nêtsach), Magnificência (Hod), Fundamento (Iessod) e Realeza (Malchut).
As Sefirot estão divididas em cinco fisionomias (Partsufim) denominadas “Rosto longo” (Arich Anpin) - que corresponde a Kéter -, “Pai” (Aba) - que corresponde a Chochmá -, “Mãe” (Ima) - que corresponde a Biná -, “Rosto Pequeno” (Zeer Anpin) - que corresponde a Tiféret e que engloba seis Sefirot - Chéssed, Guevurá, Tiféret, Nêtsach, Hod e Iessod -, e a “Parte Feminina do Rosto pequeno” (Nucva de Zeer Anpin) - que corresponde a Malchut.
Estas luzes foram divididas em três linhas: a linha direita, que é a linha da Bondade, e nela se englobam três Sefirot: Chochmá, Chéssed e Nêtsach; a linha da esquerda, que é a linha do Poder, e nela se englobam três Sefirot: Biná, Guevurá e Hod; e a linha intermediária, a linha da Misericórdia, que engloba três Sefirot: Kéter, Tiféret e Iessod.
Através da linha direita, o Santíssimo (abençoado seja!) dirije o mundo com o atributo da Benevolência; através da linha esquerda Ele dirije o mundo com o atributo da Justiça, e através da linha intermediária Ele dirije o mundo através do atributo da Misericórdia.
As três primeiras Sefirot - Kéter, Chochmá e Biná - são denominadas “Cérebros” e sobre elas foi dito: “As coisas ocultas pertencem ao Eterno, nosso Deus” (Deuteronômio 29:28) e não temos nenhum alcance e entendimento sobre elas.
Kéter é referida como Ain (Nada), Chochmá é denominada “Começo”, de onde tudo deriva. É conhecida como Aba (Pai). Biná é denominada “Arrependimento”, é conhecida como Ima (Mãe) e, através dela, Chochmá se torna conhecida. Nela se originam as Severidades.
As sete Esferas inferiores são denominadas “Atributos” e sobre elas foi dito: “As reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos”, ou seja, através deles podemos ter um entendimento da conduta do Criador (abençoado seja!).
Chéssed corresponde à benevolência sem limites e, através dela, desperta-se a benevolência no mundo. Guevurá corresponde à força e, através dela, despertam-se a justiça e a severidade no mundo. É denominada “Julgamento”. Tiféret sintetiza e balanceia a influência de Chéssed com a restrição de Guevurá e cria o equilíbrio entre as forças do julgamento (severidade) e da benevolência. É denominada “Verdade”, “Misericórdia” e “Beleza”. Nêtsach e Hod são duas ramificações de Chéssed e Guevurá: Nêtsach vem de Chéssed, e Hod vem de Guevurá. Iessod engloba toda a abundância que flui de todas as Sefirot, balanceia entre Nêtsach e Hod e une o Emanador com o recipiente, ou seja, as Sefirot com Malchut. Iessod é comparada à “Lua”, que não tem luz própria e cuja luz vem do “Sol” (Tiféret). Por outro lado, é a esfera que traz vida para as criaturas, pois tudo ocorre através dela. Malchut é a última das dez Sefirot, é passiva e tudo o que possui vem das outras Sefirot. Representa a Palavra de Deus, o mundo revelado.
As dez Sefirot podem ser imaginadas como um “corpo” completo com a imagem do homem, ou seja, Kéter, Chochmá e Biná são o segredo da cabeça e do cérebro, e as sete esferas inferiores correspondem aos outros membros do homem, como foi mencionado na “Abertura de Eliáhu” (Ticunê Zôhar, Abertura, pág. 17): Chéssed corresponde ao braço direito, Guevurá ao braço esquerdo, Tiféret ao corpo - e se situa no meio, entre Chéssed e Guevurá -, Nêtsach e Hod às duas pernas, Iessod na área genital, ou seja, o “Pacto sagrado”, e Malchut ao final do corpo, sob a coroa de Iessod.
É sabido que o Santíssimo (abençoado seja!) criou quatro mundos denominados Atsilut, Beriá, Ietsirá e Assiá. No mundo de Atsilut não há por completo existência do mal; no mundo da Beriá começa a existência do mal, em uma minoria; no mundo da Ietsirá, o bem e o mal, que são o sagrado e as “cascas”, encontram-se em igualdade e mesclados; e no mundo da Assiá, o bem é a minoria.
Através do estudo da Torá e da realização das Mitsvot (mandamentos) e de bons atos, é realizado um despertar embaixo que faz com que faíscas sagradas desçam no segredo místico das “águas femininas” até Malchut, que é a sagrada Shechiná (Presença Divina), denominada pelo nome Ado-nai. Ela então se repara e se enfeita com estas “águas femininas” e as eleva até o “Rosto pequeno” para se realizar então o acasalamento para se completar o nome Iud-Hê-Vav-Hê, o Tetragrama das Sefirot.
Através disto são ligados os dois nomes e se faz o acasalamento superior e, através desta união, uma abundância de “águas masculinas” é atraída de cima, e disto são atraídos todos os tipos de benevolências para todos os mundos e, em particular, para os filhos de Israel.
Esta união é muitas vezes mencionada como a união entre Iessod e Malchut, pois Iessod engloba em si a iluminação de todas as seis Sefirot e, portanto, é considerado como sendo todas elas. Além disso, Iessod faz passar toda a abundância do “Rosto pequeno” para Malchut e, portanto, considera-se como se ele reparasse Malchut.
Malchut, que é a parte feminina do “Rosto pequeno”, é a Shechiná que paira no mundo inferior. Ela não possui nada de si mesma senão o que recebe do “Rosto pequeno”. Depois que ela recebe dele a abundância, ela distribui essa abundância para todos os de baixo.
É conveniente ressaltar que todos estes termos e modelos mencionados são apenas formas de entender coisas espirituais superiores que, de outra forma, seriam impossíveis de serem entendidas pelo homem, mas não porque elas têm esta forma ou imagem em cima, Deus nos livre! Mesmo na Torá encontramos termos como “os olhos de Deus”, “e Deus ouviu”, “e Deus cheirou”, “e Deus disse” e outras expressões similares, apenas para que o homem possa entender o que ocorre, e não porque a coisa é assim, Deus nos livre! Assim aparecem expressões como acasalamento, beijo, masculino, feminino etc, onde masculino é o atributo que influencia e feminino, o atributo que recebe a abundância.
No que diz respeito às esferas, o segredo do acasalamento é a união do Nome Sagrado de aspecto masculino que influencia o Nome Sagrado de aspecto feminino que recebe, ocorrendo então um “adocicamento” das severidades do aspecto feminino com as bondades do aspecto masculino e uma associação do atributo da Misericórdia com o atributo da Justiça.
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Agradeço a Deus (abençoado seja!) por me dar a oportunidade de participar desse trabalho. Agradeço a todos que contribuiram para a realização dessa obra, especialmente aos Rabinos Eliezer Mordechai Kenig e Issachar Laifer, pelas bênçãos e apoio.
Agradeço à minha querida mãe Ester Rotnes e à minha querida esposa Ionit Rotnes, pelo constante apoio que me dão.
Seja a vontade de Deus (abençoado seja!) que possamos tirar bom proveito desta obra e nos elevar, bem como trazer o mundo ao seu objetivo, aproximando a vinda do Messias e a reconstrução do Templo, em breve, em nossos dias, Amen e Amen.
Tsefat, Av de 5763.
Iaacov Rotnes