Conteúdo em uma olhada
Parte 1: O mundo segundo Deus
1 Ai meu Deus!
Encontrar Deus tal como o judaísmo o define: Não muitos, não três, não dois, mas um Criador Todo-Poderoso que mantém um relacionamento pessoal com as pessoas. Aprenda por que Ele tem dois nomes diferentes e muito mais sobre a Sua personalidade.
2 O homem e a mulher
Por que o homem e a mulher são descritos como sendo "à imagem de Deus"; por que Deus criou dois sexos; o significado de livre-arbítrio; e o propósito dos seres humanos neste mundo.
3 Amigos
Por que as pessoas precisam de outras pessoas - e de ajudar os outros - são os indivíduos mais sortudos do mundo; os relacionamentos sociais e o seu significado; o conceito de responsabilidade mútua; judaísmo, judeus e o resto do mundo.
4 A lei e a ordem
A razão para as leis e um "policial" divino; o judaísmo como uma religião da ação mais do que de crença; e qual parte das suas vidas deverá ser julgada em uma corte celestial.
5 Este é um mundo maravilhoso
Como o judaísmo vê a vida; a vida como um mandamento para se viver, desfrutar, salvaguardar, prolongar e proteger.
Parte 2: Leia tudo sobre isso
6 Este é um mundo maravilhoso
Por que o Pentateuco - os cinco livros de Moisés - é tão reverenciado e estudado no mundo inteiro; suas idéias e mensagens principais, algumas de suas maiores citações e uma breve visita aos seus heróis.
7 Mais sobre a Bíblia
Esteja familiarizado com as maiores obras que se seguem na Bíblia após a morte de Moisés. Encontre profetas e reis, poetas e compositores de cânticos, bem como aquelas figuras imortais cujas lutas e conflitos espirituais nos ajudam a lidar com as questões do bem e do mal até os dias de hoje.
8 As leis e as lendas
O que a Lei Oral, a Mishná, o Talmud e o Midrásh acrescentaram ao legado intelectual, espiritual e cultural do judaísmo.
9 As vozes posteriores do judaísmo
As contribuições dos eruditos posteriores - comentaristas bíblicos, especialistas em legislação, discípulos do estudo místico da Cabalá e mestres da literatura de "Responsa" - o desenvolvimento das idéias e tradições do judaísmo.
Parte 3: O tempo de sua vida
10 O calendário judaico
Como o calendário judaico determina os anos e os meses; por que ele é tão diferente do calendário secular universal; por que o judaísmo reconhece dois Anos Novos diferentes; e o significado espiritual do Shabát semanal.
11 Os Grandes Feriados Religiosos
o que faz Rosh Hashaná (Ano Novo) e Iom Kipur (Dia da Expiação) tão especiais; como o judaísmo lida com o arrependimento e o perdão.
12 É histórico: as três festas de peregrinação
O significado, os símbolos e os rituais das três Festas de Peregrinação - Pêssach, Shavuót e Sucót - seus significados históricos e agrícolas.
13 Comer e jejuar
Observando o ano: uma visão de todas as demais datas e feriados religiosos, alegres e tristes; o que eles comemoram e como os seus significados são lembrados.
Parte 4: Do berço à sepultura
14 Mazal Tov: É um menino/menina
Do nascimento ao Bar/Bat Mitsvá: a maneira pela qual o judaísmo recebe um filho para o mundo, bem como para a idade da maturidade.
15 O casamento
Participe de um casamento judaico e conheça seus belos símbolos e rituais; aprenda como o judaísmo ensina um casal a se casar - e a permanecer casado.
16 A morte não é orgulhosa
Entenda o significado da morte, os segredos do pós morte, as reflexões do judaísmo para lidar com a perda de pessoas queridas e o luto.
Parte 5: Tudo em família: o lar
17 Bem-vindo à minha humilde morada
As coisas que tornam o lar judaico diferente - da caixinha estranha no batente da porta, passando por um quadro especial pendurado na parede leste, a uma parte da casa deixada inacabada de propósito.
18 A cozinha
O que o judaísmo ensina sobre a dieta apropriada; entendendo as leis de comida cosher e por que alguns alimentos jamais podem ser consumidos.
19 A sala de jantar
As leis religiosas para a alimentação - antes, durante e depois; um guia para cardápios especiais judaicos sugeridos e por que há comidas diferentes apropriadas para cada um dos feriados religiosos.
20 A cama
Um manual do sexo com conselhos da Bíblia, do Talmud e de um conjunto de rabinos que não ficaram constrangidos em compartilhar suas reflexões para tornar as relações sexuais melhores e mais prazerosas.
21 O quarto dos filhos
Como é ter um bebê com os sábios ensinamentos do Talmud, ao invés do Dr. Spock, e aprender o que os filhos devem aos pais e vice-versa.
Parte 6: A sinagoga
22 Vamos dar uma volta
Vamos compreender o significado, o propósito e o simbolismo de tudo o que há numa sinagoga, bem como os papéis específicos dos funcionários religiosos.
23 Vamos rezar
Um guia para o livro judaico de orações e uma explanação das conversas diárias das pessoas com Deus.
24 A moda na sinagoga
O "designer de moda" do judaísmo para a sinagoga - do xale de orações (talit) aos filactérios (tefilin); o "o que", o "por que" e o "quando".
Parte 7: Questões cruciais
25 Que tipo de judaísmo?
Qual interpretação é a correta? As diferentes correntes do judaísmo, suas diferentes abordagens para Deus, a lei e a vida; as questões não respondidas.
26 O que é mais importante?
Uma tentativa de resumir: podemos condensar o judaísmo em poucas palavras e idéias que captem a essência dos ensinamentos desta religião?
27 Alguma questão da platéia?
Vinte questões - a versão judaica. Uma oportunidade de conhecer as respostas a algumas das perguntas mais perguntadas e fascinantes que as pessoas têm sobre judaísmo.
Parte 8: Seja bem-vindo ao século 21
28 Os tempos estão mudando
As mudanças dramáticas no estilo de vida dos judeus de hoje; por que "está na moda" ser judeu; como os três principais movimentos do judaísmo - ortodoxos, conservadores e reformistas - estão lidando com os desafios de uma nova era e como eles estão se adaptando.
29 Problemas, problemas, problemas
As ameaças à sobrevivência judaica; o extremismo, o fanatismo e o fundamentalismo como perigos-chave tanto ao judaísmo quanto à civilização ocidental; o anti-semitismo camuflado como anti-sionismo; as causas do anti-semitismo; o que acontece quando os judeus não são rejeitados, mas bem recebidos, e querem se assimilar.
30 A Bola de cristal: então, como será o futuro?
Será que pode haver judeus sem judaísmo? O judaísmo pode sobreviver sem judeus? Qual é o segredo da sobrevivência judaica? Quem está certo, os otimistas ou os pessimistas, e como nós podemos ter certeza da resposta?
Apêndices
A Glossário
B O seu guia para os melhores sites judaicos
C Museus e exposições
D Organizações judaicas
E Livros bastante recomendáveis para você montar a sua própria biblioteca judaica
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Sucót: a vida em uma cabana
Ao deixar o Monte Sinai, os judeus iniciaram sua longa jornada pelo deserto: quarenta anos até a Terra Prometida. Como alguém poderia sobreviver por tanto tempo em um ambiente tão inóspito? De onde os judeus obteriam comida e como encontrariam abrigo do calor do sol?
Deus teve que realizar mais um milagre, como faria ao longo de toda a história judaica, sempre pontuada pelo milagre da Providência Divina. O feriado religioso de Sucót comemora a sobrevivência judaica em situações impossíveis. Os judeus só sobreviveram no deserto graças ao cuidado especial de Deus; o mesmo pode se dizer dos milhares de anos em que perambularam por países tão perigosos quanto o deserto e sobreviveram, pois Deus sempre lhes deu Sua proteção e amor contínuos.
Durante aqueles 40 anos, depois de terem recebido a Torá, Deus nutriu fisicamente os judeus com um alimento caído do céu chamado maná (é daí que vem a expressão "caiu do céu"). Como proteção do sol escaldante, nuvens acompanhavam as pessoas onde quer que fossem. Para lembrarem este milagre ao invés vez de só falarem dele, os judeus resolveram dar um passo além: eles o revivem, ano após ano.
Sucót (plural de Sucá) significa "cabanas". Os judeus praticantes - mesmo os que moram nas mais belas casas - constróem frágeis cabanas e lá "moram" durante toda a festividade, que dura oito dias. Nos países mais quentes, muitos judeus comem e dormem dentro da Sucá; nos mais frios, é permitido fazer somente uma das refeições do dia ali. A questão é trocar a segurança de uma casa por uma estrutura frágil, para que você perceba que, em última instância, toda a sua proteção vem de Deus.
Uma casa não é um lar
Estranhamente, o feriado em que os judeus trocam o conforto de suas casas por um abrigo temporário também é conhecido como Zemán Simchatênu, "tempo de nos alegrarmos". Sucót simboliza felicidade. Por que devemos ficar felizes ao deixar nossos lares confortáveis para sentarmo-nos em uma cabana, rodeados apenas da família e dos amigos?
Há um midrásh muito bonito a respeito de um homem que queria acima de tudo ser feliz, mas feliz de verdade. Ele rezava com fervor para Deus e, finalmente, lhe foi dito como o seu desejo poderia ser atendido: "Encontre um homem verdadeiramente feliz e vista a camisa dele. Então, você partilhará da mesma alegria". Viajou por meses a fio em busca dessa pessoa. Sempre que achava ter encontrado uma pessoa verdadeiramente feliz, após conhecê-la um pouco melhor descobria que não era tão feliz assim; o sorriso encobria uma tristeza - a felicidade aparente era irreal.
Então, depois de muito tempo, sua busca teve sucesso. Encontrou uma pessoa cujo contentamento era real, cuja alegria era plena, cujo sorriso refletia a mais completa paz e harmonia interior. Só havia um problema: este homem era tão pobre que nem camisa tinha.
Sucót também pode ser um modo de nos recordarmos que não é aquilo que possuímos materialmente que nos torna felizes. Uma casa não é um lar. Encontrar contentamento em uma cabana, conscientes de que Deus é o nosso Protetor, é muito mais significativo do que contar com a força das paredes e de um telhado para nos dar segurança e felicidade. Em Sucót, os judeus percebem que "give me shelter" ("dê-me abrigo"), mais do que o verso de uma canção de rock, é parte do seu diálogo com Deus.
Quatro tipos de judeus
Além de sair de suas casas para morar em uma cabana em Sucót, os judeus também têm que cumprir outra lei muito importante: dentro da Sucá, devem segurar quatro espécies diferentes de plantas que crescem em Israel - destino final dos judeus que vagaram pelo deserto - e balançá-las em todas as direções enquanto recitam uma bênção especial.
As quatro espécies são:
* Luláv, ramo de palmeira.
* Aravá, ramo do salgueiro que cresce perto da água.
* Hadás, ramo de murta, uma planta aromática.
* Etróg, fruto cítrico que se assemelha a um limão.
Alguns dizem que o luláv representa a espinha, a aravá, os lábios, o hadás, os olhos e o etróg, o coração. Através dessas quatro espécies, o judeu expressa o seu desejo de servir a Deus com as principais partes do seu corpo.
Uma interpretação mais famosa vê quatro espécies como símbolos de quatro tipos diferentes de judeus:
* o etróg, com sabor e fragrância, representa os judeus que estudam a Torá e fazem boas ações.
* o luláv tem sabor, mas não tem fragrância. Representa os judeus que têm estudo, porém não fazem boas ações.
* o hadás não tem sabor, mas tem fragrância, assim como os judeus que não têm estudo mas realizam boas ações.
* a aravá não tem sabor nem fragrância. Representa os judeus que não estudam nem realizam boas ações.
O que este ritual nos mostra é que todas as quatro espécies devem estar juntas para serem abençoadas. Nenhuma delas pode ser deixada de lado; nenhum judeu pode ser dispensado como "desnecessário" ou "excessivo". As três espécies imperfeitas - oluláv, a aravá e o hadás - devem ser seguradas juntamente com o etróg, do mesmo modo que todos os judeus devem ser considerados, os menos preparados em conjunto com aqueles que lhes servem de inspiração. Juntas, as quatro espécies que simbolizam a unidade do povo judeu são balançadas na direção dos quatro cantos do mundo para mostrar que a missão judaica é ser "uma luz entre as nações", levando sua sabedoria a toda a humanidade.
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Venha soprar o shofár
Rosh Hashaná é o Dia do Julgamento, quando Deus começa a decidir o que reserva para nós. Isso inclui um ritual importante que também dá a este dia mais um nome bíblico: Iom Teruá, o dia de soprar o shofár.
Eu sei que você não chamaria o jazzista Dizzy Gillespie (1917-1993) para cumprir essa mitsvá, pois não se trata de um instrumento de sopro como você costuma ver em uma banda de jazz. É um shofár - um chifre de carneiro. Por que temos um "toque musical" em um dia que, logicamente, deveria ser somente devotado a palavras e orações? E por que obtemos o som de um chifre de carneiro em vez de tocarmos notas especiais de algum outro instrumento? Embora a Bíblia não explique, o simbolismo é claro para os comentadores rabínicos. Aqui vão algumas das explicações mais populares que já foram oferecidas com respeito ao shofár:
* Durante os dias em que os judeus vagaram pelo deserto entre o Egito e a Terra Prometida, sempre se tocava o shofár como sinal para retomarem a caminhada, buscarem novas paradas ou seguirem na direção do seu destino final. No princípio de um Ano Novo, que mensagem mais poderosa pode ser dada do que esta, para não ficarmos atolados em algum ponto de nossas vidas e seguirmos adiante, progredirmos, a fim de buscarmos "novas paradas" e reconhecermos a necessidade de aperfeiçoamento e crescimento?
* O shofár era usado nos tempos antigos como um chamado para a guerra. Como um toque repentino de sirene no ar, significava mobilizar as pessoas para atacar os inimigos. Em Rosh Hashaná, o shofár também serve como um chamado para a guerra, para a luta contra os nossos maus instintos; contra nossa inclinação para ficarmos passivos diante da injustiça; contra nossa relutância em atacar a tendência para buscarmos o conforto e passarmos a nos preocupar com nossos semelhantes, com o caminho fácil em vez do caminho certo. Não há dia melhor do que o Dia do Julgamento para ouvirmos um chamado que nos lembre de "fazer o que deve ser feito".
* O shofár foi ouvido quando o povo judeu se reuniu ao pé do Monte Sinai para receber a Torá, anunciando a presença de Deus entre o povo. Em Rosh Hashaná, o toque do shofár nos faz pensar que, mesmo que estejamos distantes da montanha de Deus, jamais estaremos distantes da Sua presença. Deus sempre está entre nós, e é por isso que vivemos conscientes de sempre estarmos sendo observados por uma "autoridade superior".
* Nos tempos bíblicos, o shofár ecoava para proclamar a coroação de um novo rei. Em Rosh Hashaná, os judeus renovam o seu comprometimento com o reinado de Deus e do Seu controle sobre o mundo inteiro.
* Finalmente, há um relato que explica por que deve ser um chifre de carneiro: Abrahão foi testado por Deus, que lhe ordenou tomar o filho Isaac e oferecê-lo como sacrifício ao Eterno. Abrahão sentiu que não poderia recusar uma ordem direta de Deus e preparou-se para levar adiante a ordem até que Deus o interrompeu e mostrou-lhe o objetivo real de tudo aquilo. Diferente dos deuses pagãos, para os quais os sacrifícios humanos eram comuns, o Deus de Abrahão deixou claro que Ele não perdoa o assassinato de seres humanos, mesmo que feitos em nome dos Céus. Assim que Abrahão levantou sua espada para matar o filho, Deus ordenou-lhe que parasse - e alterou para sempre a definição dos serviços Divinos permitidos.
A cada momento, enquanto desatava Isaac, Abrahão ouvia um ruído na mata: era um carneiro com belos chifres que estava preso no matagal. Abrahão sacrificou-o no lugar de Isaac - esta foi a vontade de Deus ao dispôr o carneiro naquele momento e lugar. O chifre de carneiro foi então escolhido para ser o instrumento musical que iria aproximar os judeus de Deus em Rosh Hashaná. Isso serviria para lembrar cada judeu, neste dia santificado de comunhão com o Eterno, que estar pronto para o sacrifício é importante. Todavia, mais importante é compreender os limites do sacrifício aceitável aos olhos de Deus. O shofár, que carrega tantas referências simbólicas do passado, chama agora a nossa atenção para uma tradição judaica que aponta para o futuro. Quando o Messias estiver para chegar e a história da humanidade for transformada por novos tempos de paz universal, o toque do shofár será ouvido no mundo inteiro. Suas notas, que a cada ano nos inspiram para um novo recomeço, irão se transformar no som da redenção e marcarão o início de uma nova era para toda a humanidade.
"Eles estão tocando a nossa música"
Diz-se que as letras das canções vêm de homens e mulheres, mas a música vem de Deus. Enquanto as palavras falam às nossas mentes, as melodias falam às nossas almas. Ouça o toque do shofár e você estará ouvindo mais do que qualquer palavra é capaz de expressar. O toque do shofár explode nos lamentos sem palavras do povo de Israel em direção a Deus, em uma linguagem que transcende a compreensão racional.
Talvez não sejamos capazes de entender como os toques do shofár se comunicam com o nosso inconsciente, mas a lei judaica exige três toques distintos para que a sua mensagem seja transmitida:
* Tekiá - um toque longo e contínuo
* Shevarím - três toques quebrados que se assemelham ao soluçar
* Teruá - nove toques em staccato que se assemelham a um choro
A ordem em que devem ser tocados é: tekiá, shevarím, teruá, seguidos de uma tekiá final. O erudito do século 17, rabino Ieshaiahu Horowitz, autor de The Two Tablets of the Covenant ("As Duas Tábuas da Aliança"), oferece esta bela interpretação: a música é o tema de Rosh Hashaná, bem como a sua principal mensagem. Começamos com um toque forte e contínuo, como se fosse uma longa exclamação de felicidade, com plenitude e alegria. Entretanto, nem sempre a vida nos faz rir; a realidade nos força a passar por momentos de choro e pranto. Aqueles que estavam inteiros ficam alquebrados. O medo é parte integrante da vida. Apesar disso, sempre encerramos com tekiá. Quem estiver com o espírito alquebrado irá recuperar sua plenitude; quem estiver sofrendo deve acreditar que Deus irá ouvir suas orações e permitir-lhe cantar novamente.
A música do shofár é a melodia de nossas vidas. Ele toca "a nossa canção" e nos faz recordar que o otimismo é mais do que uma possibilidade; é uma mitsvá ordenada pela religião.